Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de AtenasVivem pros seus maridos, orgulho e raça de AtenasQuando amadas, se perfumamSe banham com leite, se arrumamSuas melenasQuando fustigadas não choramSe ajoelham, pedem, imploramMais duras penasCadenas(Chico Buarque de Hollanda, Mulheres de Atenas)“Com nossa autopiedade ruidosa e nossos silêncios ostensivos, nós, muçulmanos, estamos conspirando contra nós mesmos. Estamos em crise e estamos arrastando o resto do mundo conosco. Se algum dia houve um momento para a reforma Islâmica, é agora. Pelo Amor de Deus, o que estamos fazendo a respeito? Não só por causa do 11 de setembro, mas com mais urgência em função dele, temos de acabar com o totalitarismo Islâmico e, principalmente, com as flagrantes violações dos Direitos Humanos contra as mulheres e minorias religiosas. Você vai querer me convencer que aquilo que estou descrevendo nesta carta aberta não é o verdadeiro islamismo. Francamente, uma distinção desse tipo não teria impressionado o profeta Maomé, que disse que a religião é a forma de nos comportamos com os outros – não teoricamente, na pratica. De acordo com esse critério, a maneira dos muçulmanos se comportarem se chama Islamismo. Varrer essa realidade para baixo do tapete é absolver-nos da responsabilidade por nossos semelhantes. Entende por que estou lutando?”
( Irshad Manji – Minha Briga com o Islã)
Não é fácil tentar compreender o Islã. Não é fácil por diversos fatores, tantos que eu não consigo nem imaginar. Em tempos de guerra no Líbano é fácil voltar-se para a TV e arriscar um palpite, não?
Estou lendo um livro de uma muçulmana, essa que citei acima. Minha Briga com o Islã choca – Como a própria religião, por diversos fatores. Eu, na minha condição de feminista, já fui – e muito – Islamofobica. E acho que não sem razão. Após um longo período de estudo sobre o Islã, eu me deparei com as mais absurdas situações. E também pude amadurecer para saber que o Islã não é somente o que a mídia prega. A religião então ganhou o meu respeito por ser a religião que mais cresce no mundo todo, e ganhou meu respeito simplesmente porque eu não podia mais atacar o Islã tão ofensivamente conhecendo o que eu conheci após a visita a Liga da Juventude Islâmica, em São Paulo.
Mas isso não abrandou minhas idéias sobre as outras questões envolvendo as mulheres e as minorias religiosas, nem sobre a interpretação do Alcorão.
Irshad Manji nasceu na Uganda e muito cedo migrou com a família para o Canadá. Mesmo vivendo no ocidente não rompeu os laços com sua religião e continuou estudando em escolas muçulmanas ate ser convidada a se retirar porque fazia perguntas demais.
Nunca mais parou.
Ela entra em cada célula da estrutura do Islã, tentando destrinchá-lo e tentando fazer com que os muçulmanos respondam as suas próprias perguntas.
O Islã é uma coisa a qual eu não consigo deixar de estudar, de ler, de debater. Tenho uma amiga muçulmana, e recorro a ela sempre que tenho duvidas. Mas Minha Briga com o Islã me deixou perplexa. Não só pela coragem de poder opinar como pela capacidade de ousar perguntar o porquê de tantas coisas que sempre foram proibidas, repudiadas e erradas. Mas eu queria saber o porque é tão complexo! Porque certas coisas não se encaixam ( Assim como acontece em todas as outras religiões) e o porquê as pessoas seguem simplesmente sem questionar nada.
Irshad Manji faz perguntas acidas como “Quando foi que paramos de pensar?” e se dirige a todos os muçulmanos numa carta aberta e polemica. Me deixou divida. Eu que revi meus conceitos sobre o Islã há meses atrás não consigo achar respostas para atrocidades como à de uma mulher africana que foi condenada a 80 chibatadas por ter sido estuprada. E ainda estava grávida. E de chorar, não?
Se nós não podemos falar como mulheres muçulmanas, Irshad grita, berra e debate inteligentemente por muitas delas.
Apesar de acusarem-na de traidora, seu único crime é uma natureza questionadora. Assim como a minha. Ela rompe barreiras há muito tempo intocadas pelo silencio e pelo conformismo. Não é apenas um livro; é o clamor de uma mulher muçulmana por liberação e mudança.