Wednesday, August 02, 2006


Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Vivem pros seus maridos, orgulho e raça de Atenas
Quando amadas, se perfumam
Se banham com leite, se arrumam
Suas melenas
Quando fustigadas não choram
Se ajoelham, pedem, imploram
Mais duras penas
Cadenas
(Chico Buarque de Hollanda, Mulheres de Atenas)


“Com nossa autopiedade ruidosa e nossos silêncios ostensivos, nós, muçulmanos, estamos conspirando contra nós mesmos. Estamos em crise e estamos arrastando o resto do mundo conosco. Se algum dia houve um momento para a reforma Islâmica, é agora. Pelo Amor de Deus, o que estamos fazendo a respeito? Não só por causa do 11 de setembro, mas com mais urgência em função dele, temos de acabar com o totalitarismo Islâmico e, principalmente, com as flagrantes violações dos Direitos Humanos contra as mulheres e minorias religiosas. Você vai querer me convencer que aquilo que estou descrevendo nesta carta aberta não é o verdadeiro islamismo. Francamente, uma distinção desse tipo não teria impressionado o profeta Maomé, que disse que a religião é a forma de nos comportamos com os outros – não teoricamente, na pratica. De acordo com esse critério, a maneira dos muçulmanos se comportarem se chama Islamismo. Varrer essa realidade para baixo do tapete é absolver-nos da responsabilidade por nossos semelhantes. Entende por que estou lutando?”
( Irshad Manji – Minha Briga com o Islã)

Não é fácil tentar compreender o Islã. Não é fácil por diversos fatores, tantos que eu não consigo nem imaginar. Em tempos de guerra no Líbano é fácil voltar-se para a TV e arriscar um palpite, não?
Estou lendo um livro de uma muçulmana, essa que citei acima. Minha Briga com o Islã choca – Como a própria religião, por diversos fatores. Eu, na minha condição de feminista, já fui – e muito – Islamofobica. E acho que não sem razão. Após um longo período de estudo sobre o Islã, eu me deparei com as mais absurdas situações. E também pude amadurecer para saber que o Islã não é somente o que a mídia prega. A religião então ganhou o meu respeito por ser a religião que mais cresce no mundo todo, e ganhou meu respeito simplesmente porque eu não podia mais atacar o Islã tão ofensivamente conhecendo o que eu conheci após a visita a Liga da Juventude Islâmica, em São Paulo.
Mas isso não abrandou minhas idéias sobre as outras questões envolvendo as mulheres e as minorias religiosas, nem sobre a interpretação do Alcorão.
Irshad Manji nasceu na Uganda e muito cedo migrou com a família para o Canadá. Mesmo vivendo no ocidente não rompeu os laços com sua religião e continuou estudando em escolas muçulmanas ate ser convidada a se retirar porque fazia perguntas demais.
Nunca mais parou.
Ela entra em cada célula da estrutura do Islã, tentando destrinchá-lo e tentando fazer com que os muçulmanos respondam as suas próprias perguntas.
O Islã é uma coisa a qual eu não consigo deixar de estudar, de ler, de debater. Tenho uma amiga muçulmana, e recorro a ela sempre que tenho duvidas. Mas Minha Briga com o Islã me deixou perplexa. Não só pela coragem de poder opinar como pela capacidade de ousar perguntar o porquê de tantas coisas que sempre foram proibidas, repudiadas e erradas. Mas eu queria saber o porque é tão complexo! Porque certas coisas não se encaixam ( Assim como acontece em todas as outras religiões) e o porquê as pessoas seguem simplesmente sem questionar nada.
Irshad Manji faz perguntas acidas como “Quando foi que paramos de pensar?” e se dirige a todos os muçulmanos numa carta aberta e polemica. Me deixou divida. Eu que revi meus conceitos sobre o Islã há meses atrás não consigo achar respostas para atrocidades como à de uma mulher africana que foi condenada a 80 chibatadas por ter sido estuprada. E ainda estava grávida. E de chorar, não?
Se nós não podemos falar como mulheres muçulmanas, Irshad grita, berra e debate inteligentemente por muitas delas.
Apesar de acusarem-na de traidora, seu único crime é uma natureza questionadora. Assim como a minha. Ela rompe barreiras há muito tempo intocadas pelo silencio e pelo conformismo. Não é apenas um livro; é o clamor de uma mulher muçulmana por liberação e mudança.

3 comments:

Anonymous said...

Caraca, vc tirou o pó com estilo né???
Gostei do que li, amanhã vou publicar um protesto sobre uma coisa que me abalou muito hoje!
Agora falando de coisas boas, já começou a ler minha história??
Quer dizer a história do Carlinhos....rs!

Anonymous said...

Sabe que eu ainda não tive coragem de postar a foto que sobre o protesto que lhe falei? A imagem mexeu demais comigo, chorei à noite em casa quando lembrei...
Acho melhor guardar opra um momento em que eu não estiver tão sensível!

Claris said...

Aly, te amo. rs Vc e a sua cabecinha fervilhante!

Beijos